Dei por mim, há dias, lendo um dos últimos escritos de Francis Fukuyama. ‘Ordem e decadência política: Da revolução industrial à globalização da democracia’ é o título da obra, que pode ser considerada como sendo uma excelente matéria-prima deste estudioso em ciências políticas e um dos mais lidos autores do tema na actualidade.
Trata-se de uma obra de forte alcance. Porém, lendo, um e outro trecho, chama atenção o facto de a mesma narrar, de forma convicente, os meandros que deram origem às principais organizações criminosas europeias da actualidade, mormente aquelas que vieram a nascer na Itália.
Apesar de famosas, com um histórico que para os seus pode parecer invejável, organizações como a Camorra, Ndagrentha e a máfia siciliana nasceram dentro de núcleos familiares e em zonas em que se pensava que o facto de o Estado se manifestar de alguma forma ausente justificasse o surgimento de outros grupos que pudessem, no mínimo, garantir a paz e tranquilidade. Há dias, como quem não quisesse nada, dei por mim com informações sobre uma organização que há mui- to se propõe em tentar ultrapassar determinados propósitos que estariam, em circunstâncias normais, sob responsabilidade da administração distrital do Sambizanga.
Quem nunca ouviu falar da famosa Turma do Apito? Trata-se de um grupo que se gaba ter o apoio moral de um antigo administrador distrital ou municipal, mas que se sabe que parece não agir sempre em conformidade com aquilo que os preceitos legais determinam, embora se reconheça os aspectos bons que tem evidenciado.
Infelizmente, por mais que se busque outras soluções, a procura de segurança e conforto, sobretudo nos meios familiares, faz com que se tente ter mecanismos que façam com que muitos se sintam protegidos.
Quando, há dias, vimos aquilo que se diz ser a famosa Turma do Apito, a questão inicial foi tentar saber ate aonde pode ir a sua actuação? Trata-se de um percurso em que poucos, se calhar, darão a mão. Porém, ainda assim, é fácil vislumbrar que se estará a caminhar para uma avenida cujo trajecto pode ser conflituoso, isso se se tiver em conta as acções do próprio Executivo. Há dias, ficou-se a saber que a famosa Turma do Apito, por exemplo, tinha até um pseudo tribunal no Sambizanga, onde dirimiam pequenos conflitos, alguns dos quais eram quase insanáveis a nível dos núcleos familiares nesta circunscrição da província de Luanda.
Não há dúvidas de que, além daquilo que se parece observar em relação ao que se passa em muitos municípios como o Sambizanga, num futuro próximo viveremos situações que exigirão muito mais intervenção do Estado, dada a influência que estes grupos vão ganhando. As máfias e outras grandes organizações criminosas tiveram um condão muito associado à pobreza e às crises até de relacionamento entre próximos, instala- das em determinadas áreas da Itália e noutros pontos do mundo. E não se pode perder isso de vista.
E quando se permite, por exemplo, que grupos como as turmas do apito possam decidir sobre vários diferendos, alguns até pessoais, não nos espantemos de que no futuro possam exigir muito mais. E aos poucos se vai alimentando o polvo.