Várias são as vozes que dizem, com alguma razão de ser, que Angola herdou o sistema de ensino do seu opressor colonial.
Nós, entretanto, pretendemos apresentar, nesta singela reflexão, uma visão que difere daquela que boa parte dos especialistas, entre os quais o historiador Anthony (2011), defende.
Quando os portugueses chegaram ao território que, depois de algum tempo, passou a chamar-se Angola, isto é, em 1482, depararam-se com povos administrativamente organizados, facto que, num primeiro momento, pode ser usado como prova de que sempre houve, antes mesmo da invasão portuguesa, um modelo de educação muito bem definido pelos autóctones, mesmo que à base da oralidade.
Os anos de alienação cultural, violências física e psicológica alteraram tudo isso, ou seja, substituiu-se, violentamente, o modelo de educação endógeno por aquele que eles mesmos diziam ser universal.
Hodiernamente, no entanto, sabe-se que não existe um único modelo de educação (cf.: Piletti, 2004; Neto, 2014), senão vários, dependendo das necessidades de cada povo.
Assim, não fazia parte da agenda político-económica de Portugal criar, na então colónia, um sistema de ensino que respondesse às necessidades dos autóctones e que os tornasse aptos para as exigências do mundo contemporâneo, pelo contrário, o objectivo sempre foi disseminar um sistema de alienação cultural e controle social que funcionasse nas estruturas de ensino que, com o passar do tempo, foram surgindo em Angola como é o caso da escola Salvador Correia, de 1919 uma vez que o ensino da época sempre teve como propósito iniciar os autóctones nos valores, na cultura e na cosmovisão do seu opressor, fazendo-os acreditar que os seus próprios valores eram, portanto, “arcaicos”, “rudimentares”, “selvagens”, “incultos”.
Com base nisso, pode dizer-se que Angola não herdou do colonizador português nenhum sistema de ensino (no sentido original, global), herdou, isto sim, um sistema de controle social, manipulação do imaginário colectivo, segregação social, etc.
Hoje, por exemplo, nota-se que, fruto das más políticas educativas vigentes no país, muitos são excluídos e desrespeitados, à semelhança do que ocorria na época colonial, pelo simples facto de falarem as suas próprias línguas nacionais.
Herdou-se, como se percebe, um sistema que valoriza a cultura do opressor e desvaloriza a do oprimido, daí que, para muitos angolanos hoje, falar Português é sinónimo de superioridade social, desenvolvimento cognitivo e avanço civilizacional, ao passo que falar
uma das línguas nacionais é, vezes sem conta, associado ao atraso mental e à selvajaria. Tudo isso prova que o actual “sistema de ensino” se serve das mesmas ferramentas de alienação cultural que o “sistema de ensino” colonial utilizava.
Logo, pela seriedade do problema, há necessidade de se alterar o quadro, pois não se admite, em pleno século XXI, pessoas a serem estigmatizadas por fazerem uso de uma língua que os identifica.
Precisamos de um Sistema de Ensino inclusivo, que agregue valores endógenos e que dê respostas práticas às necessidades dos angolanos, e não às de outro povo.
Por: famoroso josé