A abertura das inscrições nas universidades públicas tem sido o principal barómetro para se aferir as tendências e as escolhas que os angolanos colocam sempre em primeiro lugar. Trazer à liça esse tema, quando os professores e estudantes das instituições de ensino superior públicos encontram-se de braços cruzados pode parecer, até, pia- da. Mas, ainda assim, vale lembrar que, olhando para aquilo que é o calendário oficial, o fim do presente ano lectivo não está assim tão distante, o que dará lugar, brevemente, à abertura de mais um novo ano.
Assim que soa o gongo das inscrições, cursos como direito, medicina, as engenharias, psicologias e outros sobejamente conhecidos, aparecem sempre na pole- position como sendo aqueles que mais inscritos apresentam. Não é em vão que o rácio entre inscritos e vagas existentes acabam por ser assustadoras, fazendo com que os reprovados nos testes de admissão olhem para as instituições de ensino superior privadas como alternativas.
Mas, hoje, se se fizesse um levantamento sobre o número de estudantes recém-licenciados que se encontram em situação de desemprego, provavelmente, a lista seria encabeçada por muitos daqueles que se formaram nos cursos de ciências sociais, uma aposta cuja oferta de postos de trabalho no país ainda se mostra escassa, apesar das necessidades existentes. Um olhar desapaixonado àquilo que é a oferta dos institutos superiores ou universidades privadas que surgem no país permite averiguar as áreas em que se tem investido muito mais, mas longe daquilo que são, de facto, as necessidades em termos de recursos humanos para o país.
Apesar do crescente número de universidades e institutos superiores, as engenharias e outros cursos técnicos aparecem sempre em número inferior, o que acaba por se repercutir, posteriormente, no diminuto número de quadros técnicos que são oferecidos ao mercado. Aos poucos, embora sem que as próprias universidades se vão apercebendo, o mercado vai dando sinais sobre as suas preferências em termos de formação. E ao que tudo indica, esses desejos começam a caminhar em sentido inverso daquele que parecia ser as principais apostas quando a febre da abertura de universidades e institutos superiores se instalou no país.
Nos últimos dias, o magnífico reitor da Universidade Agostinho Neto decidiu visitar as unidades orgânicas que compõem a instituição que dirige. Para se inteirar do funcionamento destas e, como não podia deixar de ser, levar consigo as inquietações que apoquentam as faculdades e escolas para que sejam resolvidas. Numa fase em que o desemprego campeia, havendo milhares de jovens clamando, diariamente, por um posto de trabalho, apesar da formação superior que possuem, da Escola Superior de Hotelaria e Turismo da Universidade Agostinho Neto veio a boa nova de que o grau de empregabilidade dos estudantes deste curso é de 98 por cento.
Ou seja, quase que não existem desempregados entre aqueles que passaram por esta formação, sendo que os restantes 2 por cento tornaram-se empregadores. É bem provável que estes números venham a mudar algumas mentalidades e fazer com que, assim que forem abertas as inscrições para o próximo ano lectivo, muitos mudem de opção. Por estes dias, pelo que tudo indica, o turismo é que está a dar.