Uma comitiva diplomática dos Estados Unidos no Sudão foi apanhada entre o fogo entre as facções militares no país na segunda-feira
Esta terça-feira, o secretário de Estado dos EUA telefonou separadamente ao chefe do Exército do Sudão e ao chefe das Forças de Apoio Rápido (RSF) para alertar que qualquer ataque contra os diplomatas norte-americanos é inaceitável.
Antony Blinken adiantou que ninguém ficou ferido, mas condenou o ataque que descreveu como “imprudente” e “irresponsável”, salientando que a coluna de veículos que ficou sob fogo exibia bandeiras norte-americanas.
“Todo o nosso pessoal encontrase são e salvo”, mas este é um “acto irresponsável”, disse o responsável no final de uma reunião de dois dias dos ministros dos Negócios Estrangeiros do Grupo dos sete países mais industrializados do mundo (G7) na cidade japonesa de Karuizawa.
Blinken adiantou que durante o telefonema que manteve com os dois comandantes sudaneses expressou “profunda preocupação com o ambiente geral de segurança” e apelou a um cessar-fogo de 24 horas “para permitir que os sudaneses se reúnam em segurança com as suas famílias”.
Paramilitares concordam com cessar-fogo de 24 horas Esta terça-feira, o chefe das RSF disse que as forças paramilitares concordaram com um cessar-fogo de 24 horas para permitir a passagem segura de civis, incluindo aqueles que ficaram feridos nos combates.
Numa publicação no Twitter, o general Mohammed Hamdan Daglo, mais conhecido por “Hemetti”, disse que a decisão foi tomada após a conversa com o secretário de Estado dos EUA.
Hemetti disse que discutiu “questões urgentes” com Blinken e que os dois manterão o diálogo “para trabalhar de mãos dadas para forjar um futuro melhor para as nossas nações”.
Entretanto, o Exército disse em comunicado não ter conhecimento de qualquer cessar-fogo de 24 horas. “Entramos numa fase crítica e os nossos esforços estão focados em atingir metas a nível operacional”, disse o Exército, que acusa as RSF de estarem a planear usar o tempo do alegado cessar-fogo para encobrir uma “derrota esmagadora”.
Tanto o Exército como as RSF ofereceram tréguas nos dias anteriores, mas os combates não pararam.
Os confrontos no Sudão eclodiram no sábado, à medida que aumenta a tensão entre as duas fações militares do país. De acordo com a ONU, pelo menos 185 pessoas morreram e mais de 1.800 ficaram feridas nos confrontos.
Os confrontos provocaram cortes de água e de energia em algumas regiões do Sudão e alguns hospitais estão a ficar sem recursos para prestar cuidados aos milhares de feridos.
A tensão entre as duas facções militares aumentou depois de o grupo paramilitar ter reivindicado o controlo do aeroporto e do palácio presidencial de Cartum, numa aparente tentativa de golpe de Estado.
Os confrontos, que começaram em Cartum e se alastraram às cidades vizinhas de Omdurman e Bahri, são os mais graves em décadas e correm o risco de dividir o Sudão entre as duas facções militares que partilharam o poder durante uma difícil transição política.
Depois da revolta civil que obrigou à destituição de Omar alBashir, em 2019, foi estabelecido um governo interino em articulação com as autoridades militares.
Nessa altura, o Sudão atravessava um período de transição democrática, mas o processo foi interrompido por um golpe militar, em Novembro de 2021.
Os militares uniram-se contra os dirigentes civis e tomaram conta do Conselho Soberano e o Sudão passou, assim, a ser governado por um conselho de generais.
O chefe do Exército e actual presidente do país, o general Abdel Fattah al-Bourhan, tornou-se presidente do Conselho Soberano e o chefe das RSF, general Mohammed Hamdan Daglo, o seu vice-presidente.
Mas “Hemetti” acabou por se colocar do lado dos civis. Os dois generais entraram em discórdia sobre a direcção que o país estava a tomar e assim se deu início ao conflito, com as duas partes a lutarem pelo poder.
No centro do desacordo estão os planos para a integração do RSF nas forças armadas e quem deveria supervisionar esse processo.