As autoridades arménias celebraram a unidade do país nesta Terça-feira, relembrando, como acontece a cada 24 de Abril, o genocídio arménio, um dia depois da inesperada renúncia do primeiro-ministro Serzh Sarkisian, após 11 dias de protestos.
O presidente do país, Armen Sarkisian (que não tem vínculos de parentesco com o antecessor), o primeiro-ministro interino, Karen Karapetian, e as autoridades religiosas do país compareceram no memorial de Erevan dedicado às vítimas dos massacres cometidos entre 1915 e 1917 sob o Império Otomano. Nikol Pachinian, o deputado de oposição que liderou durante 11 dias os protestos contra Serzh Sarkisian, irá ao local à tarde.
A capital amanheceu tranquila, com a maioria dos habitantes preparando-se para celebrar esta importante data na história do país, após uma noite de comemorações por conta da saída do ex-presidente e agora ex-premier. “Hoje, atravessamos outra etapa difícil da nossa história”, disse Karen Karapetian num comunicado, ao recordar a tragédia sofrida pelos armênios no início do século XX. “Hoje, mostramos ao mundo que, apesar das dificuldades e dos nossos problemas internos sem resolver, permanecemos juntos e unidos”, acrescentou o primeiro-ministro interino.
Na Segunda-feira à noite, Nikol Pachinian afirmou que começaria a negociar com Karen Karapetian, numa reunião prevista para Quarta-feira, após o feriado de hoje (ontem). “A nossa ‘revolução de veludo’ ganhou, mas é apenas um primeiro passo. A nossa revolução não pode parar no meio do caminho, e espero que continuem até à vitória final”, disse o opositor aos seus partidários reunidos na Praça da República, no centro de Erevan. Voto no Parlamento
A batalha política ainda não terminou, porém.
Dominado pelo Partido Republicano da Arménia, de Serzh Sarkisian (com 65 dos 105 assentos), o Parlamento arménio deve votar para eleger o novo primeiro- ministro num prazo de sete dias. Interino no cargo, Karen Karapetian é ex-primeiro-ministro e próximo de Serzh Sarkisian, de quem foi vice-premier até à sua renúncia. Também é membro do Partido Republicano da Arménia, no poder sem interrupção há quase 20 anos. “Podemos nos unir nos momentos críticos, negociar e buscar soluções”, declarou Karen Karapetian. Serzh Sarkisian anunciou a sua saída ontem (Segunda-feira), horas depois da liberação de Nikol Pachinian, detido na véspera durante uma manifestação. Uma vez livre, ele voltou imediatamente para as ruas de Erevan, declarando “Todos já sabem que ganhamos!”. “Deixo o cargo de dirigente do país”, disse Sarkisian num breve comunicado. “Nikol Pachinian tinha razão. E eu me enganei”, acrescentou Sarkisian, que havia sido nomeado premier pelos deputados na semana passada, após ser presidente por dez anos.
A Constituição arménia proíbe que o presidente exerça mais de dois mandatos, mas Sarkisian mandou votar em 2015 uma polémica reforma para dar a maior parte dos poderes ao premier. A oposição condenou a reforma, temendo que Sarkisian se aproveitasse dela para continuar à frente do país. O seu sucessor na Presidência ficou apenas com poderes honorários. Além das manobras de Serzh Sarkisian para se manter no poder, os manifestantes criticavam esse ex-militar de 63 anos por não ter feito nada para reduzir a pobreza e a corrupção no país, onde os oligarcas continuam a controlar a economia.