A tensão internacional continua elevada, esta Segunda- feira, após o suposto ataque químico em Duma, localidade síria onde os investigadores da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) não conseguiram entrar por “problemas de segurança”
“A e q u i – pa ainda não se posic i o n o u em Duma”, confirmou, ontem o diretor da OPAQ, Ahmet Uzumcu, durante uma reunião de emergência dos Estados membros do Conselho Executivo.
O mesmo acrescentou que a Síria e a Rússia alegaram problemas de segurança. Para os Estados Unidos, a Rússia pode ter visitado o local do suposto ataque químico e manipulado as evidências, afirmou esta Segunda- feira o embaixador americano na OPAQ.
“Os russos podem ter visitado o local do ataque, e estamos preocupados que eles o tenham adulterado a fim de frustrar os esforços da missão da OPAQ de realizar uma investigação eficaz”, afirmou Ken Ward, numa reunião da organização na sua sede em Haia.
O suposto ataque com “gases tóxicos” de 7 de Abril na então localidade rebelde de Duma continua a mobilizar as grandes potências, com os Estados Unidos e Rússia à frente, e a tensão só aumentou após os ataques ocidentais em represália contra alvos militares da Síria. Lideradas por Washington, Paris e Londres, essas incursões de magnitude sem precedentes ocorreram apesar da presença dos investigadores da OPAQ na Síria. Eles iniciaram o seu trabalho Domingo.
Os especialistas, cuja tarefa é investigar o possível uso de armas químicas, mas não identificar os autores, ainda não visitaram Douma, onde o suposto ataque causou dezenas de mortes segundo socorristas.
Grande aliado do Governo sírio, Moscovo prometeu “não interferir” no trabalho da missão, oficialmente convidada por Damasco, que nega qualquer responsabilidade. Após os ataques ocidentais, as discussões diplomáticas sobre a questão síria foram retomadas. A reunião de emergência do Conselho Executivo da OPAQ foi na sede da organização em Haia.
“A prioridade é fornecer os recursos à Secretaria Técnica (da OPAQ) para completar o desmantelamento do programa sírio”, indicou o embaixador francês, Philippe Lalliot. Já os americanos, franceses e britânicos apresentaram na ONU um novo projecto de resolução sobre a Síria que devia ser discutido ainda ontem.
O texto inclui a criação de um novo mecanismo de investigação sobre o uso de armas químicas.
Aglomeração em Damasco
Na capital da Síria, milhares de pessoas ocuparam esta Segundafeira a Praça dos Omeídas, fechada ao trânsito, agitando bandeiras sírias e retratos do Presidente Assad para denunciar os ataques ocidentais.
Entre a Sexta-feira à noite e a madrugada de Sábado, uma semana depois do suposto ataque químico, esses três países mobilizaram navios de guerra e aviões de caça e atacaram centros de pesquisa ligados, segundo os ocidentais, ao programa de armas químicas do regime. Paris reconheceu que os russos foram advertidos. Além disso, os locais designados como alvos estavam “completamente vazios”, segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), afirmando que “as forças presentes haviam sido evacuadas”.
“Missão cumprida”, comemorou o Presidente norte-americano, Donald Trump, no Twitter, acrescentando que o resultado da operação, “perfeitamente executada”, “não poderia ter sido melhor”. “Transparência e neutralidade” Num país assolado por uma guerra complexa, envolvendo vários actores apoiados por grandes potências e interesses diferentes, esses ataques não alteraram o equilíbrio de forças.
“Para mim, a conclusão é que esses ataques não mudam nada. Foi uma encenação orquestrada por Trump e Putin (Presidente russo) para permitir que ambos salvassem a cara”, diz o especialista Nabeel Jury, pesquisador do Think Tank Atlantic Council, em Washington.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, mostrou-se conciliador após vários dias de declarações em tom ameaçador. A França “não declarou guerra” à Síria de Bashar alAssad, disse ele Domingo. Domingo, Putin advertiu os Estados Unidos, França e Reino Unido contra novos ataques na Síria, que gerariam “inevitavelmente caos” nas relações internacionais.
Os ataques de Sábado também foram denunciados num twitter pela embaixada russa em Haia, argumentando que o seu objectivo era “minar a credibilidade” da missão da OPAQ.
Os investigadores em Damasco tiveram “várias reuniões” com funcionários do Governo, para discutir a missão a ser realizada “com transparência e neutralidade”, assegurou o vice-ministro sírio das Relações Exteriores, Fayzal Mokdad, citado pela agência de notícias Sana.
“A Síria reiterou durante as reuniões que está disposta a cooperar e a disponibilizar todas os meios para permitir que a delegação cumpra bem a sua missão”, ressaltou. O trabalho deverá, no entanto, ser complicado para os investigadores, que chegam mais de uma semana após os factos numa área que desde então tem estado sob controle do Exército sírio e da Polícia Militar russa.