Oficinas de arte e outras de formação profissional, além de políticas de apoio financeiro para empreendedorismo, constam entre os desejos
POR: Alberto Bambi, Virgílio Pinto e Pascoal Manuel
Grande parte da juventude da localidade do Biópio, município da Catumbela, província de Benguela, diz-se desempregada, razão por que os mesmos clamam por programas que promovam o auto-emprego. “Já que por tudo e por nada a administração só diz que o Governo não tem dinheiro, nós gostaríamos que aqui chegassem os projectos de formação profissional com cursos de serralharia, mecânica, electricidade, informática, construção civil, para nós podermos criar postos de trabalho”, disse Martinho Kwanhanga, o jovem de 23 anos de idade que testemunhou o avançar de idade de muitos vizinhos que se remeteram às promessas da administração.
Martinho informou que a vila do Biópio possui alguns jovens com o ensino médio concluído, mas que não conseguem aderir ao mercado de emprego, pois a administração não cria políticas abertas para tal. Como ele, outros jovens que preferiram o anonimato falaram da necessidade de formação profissional, mas acrescentaram que, como noutras localidades do género da sua, os líderes locais deviam preocupar-se em atrair os programas de micro-crédito e de outras formas de apoios financeiros reembolsáveis, a fim de potenciar o arranque de tais iniciativas por parte da juventude. Porque sem isso, podemos formar- nos em mecânica, serralharia ou electricidade, mas não vamos conseguir abrir a nossa oficina e poder dar emprego a outros jovens. Os entrevistados de O PAÍS falam do Balcão Único do Empreendedor e do PROJOVEM, além de outras modalidades de ajuda aos jovens com iniciativas justificadas e apuradas.
Central serve para os forasteiros
Cansada de ver os seus e os filhos dos vizinhos à espera de trabalhos que nunca acontecem, Dona Domingas não entende como é que, sendo uma região com uma barragem, não se consegue preparar quadros para este sector e absorvê- los a nível local. “De repente, a gente só vê um monte de funcionários novos a entrarem na central, mas todos vindos do Lobito, Catumbela e Benguela. Será que os nossos filhos não podem ser electricistas, mecânicos ou motoristas da empresa que está na nossa terra?”, questionou a senhora, tendo adiantado que até para a limpeza a equipa vem de fora.
A reclamação de Domingas é associadas às de outras senhoras mais novas, que, no momento desta reportagem, a ajudavam em trabalhos domésticos, segundo as quais até para a educação a população do Biópio assistia à entrada de professores de fora, deixando para o pessoal da localidade duas a três vagas. Na vila do Biópio existem salas onde se leccionam cursos do ensino secundário do II Ciclo com o curso Pré-universitário de Ciências Económicas e Jurídicas. Os moradores da zona acham que esta área do saber contrasta com o potencial da região, que associam ao sector de energia e águas. “Seria bom que colocassem aqui Ciências Físicas e Biológicas, que têm a ver com cursos práticos, das áreas da Matemática, Física, Química e Biologia, o que faria mais sentido com as nossas aspirações”, declararam os residentes, observando que, nesse contexto, não valia a desculpa da falta de formadores, porque a central térmica da localidade os tem “aos montes” Recurso à pesca Na falta de emprego, os jovens dedicam- se à actividade pesqueira, remetendo-se à obrigação de o fazerem no curso do rio Catumbela anterior ao da barragem do Biópio, evitando, deste jeito, a dispersão do pescado provocada pela grande velocidade da corrente fluvial.
“Capturamos mais o bagre, cacusso, chicunha e o camarão, que normalmente vendemos aos turistas, grupos de estudantes e outros visitantes que chegam aqui para passear e explorar a área”, explicou um mais velho, encontrado na ponte da barragem, tendo acrescentado que o negócio do pescado não serve sequer para sustentar o custo do transporte dessa região para o Lobito. Sobre os transportes, O PAÍS apurou que existiam no troço Lobito-Biópio alguns autocarros que cobravam 300 Kwanzas por passageiro, uma responsabilidade que, actualmente, passou para uma rede de Toyotas-Hiace, vulgarmente conhecidos como verde e branco, cuja propriedade os biopienses atribuem a alguém ligado à Administração Municipal da Catumbela. Fora destes automóveis, os habitantes remetem-se a boleias de visitantes e serviço de táxi aleatório levado a cabo por muitos destes, que chegam mesmo a subir o preço para 400.
“Água nas lavras”
Outra situação que inquieta, principalmente as mulheres dessa zona ribeirinha, tem a ver com a falta de um sistema de canalização de água para as suas áreas de cultivo. É que as lavras estão localizadas numa posição bastante elevada em relação ao nível da corrente fluvial, o que torna cada vez mais inviável a produção agrícola na região, remetendo- a apenas para o período chuvoso. “Todos os dias vemos água a passar no rio, mas nós queremos água nas lavras para podermos cultivar e diminuir a fome”, disse Maria Amélia Kundongo, tendo realçado que entre Maio e Outubro abandona os cultivos para se dedicar a outra actividade teoricamente rentável. O fabrico de carvão domina a ocupação das mulheres e homens desempregados, que, na ausência das chuvas, não podem prosseguir com a cultura nas lavras. Os mesmos vêem na venda desse produto a alternativa viável para cobrir os períodos de carência.
Sobado anuncia luta incessante
Manuel Daniel Chimpenhe, de 66 anos de idade, é o soba do Biópio. Ele reconhece que os problemas vividos pelos jovens e outros moradores, no que toca à falta de oportunidade de emprego, são reais e não são novos. “Nós temos conversado insistentemente com os administradores que passam por aqui, no sentido de promover o emprego para os moradores da localidade, mas eles nos dizem que isso não depende só deles”, informou a autoridade tradicional, tendo adiantado que a luta do sobado não ia parar. Apesar de admitir que a população do Biópio cresceu consideravelmente nos últimos dez anos, o soba assegurou que não é difícil resolver a situação do emprego dos jovens, uma vez que, diferentemente de outras zonas do país, no Biópio tem-se a vantagem de se conhecerem todos os moradores.
Manuel Chimpenhe anunciou que a comunidade devia dar-se por contente pelo fornecimento de energia eléctrica e água, que dificilmente falha. Relactivamente ao problema da irrigação dos campos, o Soba Chimpenhe, como é conhecido nessa paragem de Benguela, recordou que a barragem do Biópio foi concebida como uma infraestrutura essencialmente para irrigar, razão pela qual, até à data desta reportagem, não compreendia o porquê da falta de água nas zonas de cultivo. Finalmente, o ancião considerou plausível a proposta dos jovens sobre a atracção de programas de promoção de emprego, assegurando que a presença de oficinas de artes, na região, devia dar uma grande ajuda.
Promessas nos envelheceram”
“Samuel Dumba e Manuel Rodrigues (para lá dos 44 anos de idade) são dois senhores, chefes de família, que viram a idade a avançar no desemprego face às constantes promessas da Administração local, que profetizava a vinda de tempos melhores. “De lá para cá, só vimos a idade a aumentar e a aumentar também os problemas de casa, porque não temos emprego, as promessas nos envelheceram. Por isso, não queremos ver mais os nossos jovens a passar por essa situação”, desabafaram os desempregados, tendo assegurado que a regedoria da localidade tinha vontade de resolver o problema da comunidade, mas estava totalmente dependente das decisões dos administradores. Para garantirem o sustento da família, Samuel Dumba e Manuel Rodrigues submetem- se, diariamente, à prestação de serviços pesados atinentes à carga e descarga de produtos ou materiais, feitas algumas vezes dentro da sua circunscrição, outras vezes fora desta