A promoção da cultura de investigação científica prevê popularizar o conhecimento científico e tecnológico, com a finalidade de divulgá-lo na sociedade, de acordo com os participantes no encontro que visou analisar a premiação de tais trabalhos
Texto de: Joel Coimbra
Muitas pessoas que alegadamente se dedicam à investigação científica fazem plágios de trabalhos de outrem e para os validarem, aquando da publicação em livros, por exemplo, usam logotipos de várias empresas, entre as quais a Sonangol, revelou ontem, em Luanda, o secretário de Estado para a Ciência, Tecnologia e Inovação, Domingos Neto.
O governante fez esta revelação ao intervir no encontro metodológico sobre “Investigação Cientifica e Desenvolvimento Experimental”, promovido pelo Ministério do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação (MESCTI). Domingos Neto garantiu ter assistido à atribuição de vários prémios a trabalhos que nunca serão publicáveis e que tem provas de que alguns deles são plágios.
Para evitar que maus trabalhos afectem a imagem de Angola no exterior do país, defendeu a assumpção do critério do rigor ao longo dos actos de validação dos trabalhos de investigação científica. De 1995 a 2005 aciência e a tecnologia encontravam-se na estaca zero, mas depois registouse um salto qualitativo de 300 por cento.
“O problema não está na percentagem, está quando tentamos comparar-nos com os países vizinhos. Até mesmo o Burkina Faso, que tem menos população do que nós, faz muito mais”, apontou.
Domingos Neto explicou, exibindo uma lista, que só são contabilizáveis para a produção científica artigos publicados em revistas científicas internacionais, com revisão de pares, as comunicações orais em eventos científicos nacionais, as teses de doutoramento (somente as que já foram defendidas), livros e os relatórios técnicocientíficos publicados. Explicou igualmente que só são contabilizáveis, para a produção tecnológica, projectos com registo de patentes em Angola, registo de marcas, reivindicação de propriedade intelectual, ou de direitos autorais, desenhos de protótipos desenvolvidos, registados e inseridos no mercado e softwares também já desenvolvidos e registados.
“Ao atribuirmos prémios a trabalhos que sejam científicos, para além de ser um acto de cidadania, também eleva o nome de Angola, porque há um forte desalinhamento naquilo que nós fazemos. O que acaba por ser um desperdício”, considerou. A política de ciência, tecnologia e inovação, um instrumento que baliza as actividades do MESCTI desde a sua criação, também mereceu a atenção do prelector.
Esclareceu que a mesma foi elaborada em resposta aos consórcios internacionais que haviam passado uma orientação clara ao país, sobre a necessidade de se estabelecer um documento sobre a Ciência, a Tecnologia e Inovação. Segundo o secretário de Estado, a implementação desse instrumento deverá convergir para as melhores práticas internacionais que sejam reconhecidas pela qualidade, resultados produzidos e pelo impacto do processo.
“A política foi concebida por um relatório da ONU e, com base em lacunas detectadas, estabeleceuse esse documento onde estão as premissas que, se forem implementadas, poderemos, de facto, desenvolver a ciência”, explicou. Domingos Neto declarou que a promoção da cultura de investigação científica tem como meta popularizar o conhecimento científico e tecnológico, com a finalidade de alastrá-lo à sociedade, isto é, para que haja, digamos, um entendimento nacional sobre a importância da ciência.
O encontro contou com a presença de representantes da Direcção Nacional de Formação Graduada, Instituto Nacional de Avaliação e Acreditação dos Estudos do Ensino Superior, Gabinete Jurídico do MESCTI, Fundação Sagrada Esperança, Fundação António Agostinho Neto, Fundação Eduardo dos Santos, Ministério da Cultura, CEDMDE, Clínica Sagrada Esperança, e da Clínica Multiperfil.